terça-feira, 31 de julho de 2007

Os vândalos

A velha universidade pública ficou condenada a partir do momento em que foi convertida de instituição de elite em instituição de massas, quero dizer, quando deixou de ser um clube fechado, destinado exclusivamente a educar futuros membros das classes dominantes, e passou a ser orientada para formar força de trabalho qualificada, isto na melhor das hipóteses, porque às vezes os alunos nem sequer saem com qualificações apreciáveis. Sempre que em perguntas durante as aulas ou em debates no final de palestras a questão me é colocada, eu respondo da mesma maneira:

Que sentido tem evocar a universidade pública quando departamentos ou linhas de pesquisa ou professores individualmente recebem financiamentos, explícitos ou discretos, de grandes empresas ou de organizações não-governamentais controladas por grandes empresas, e quando esta prática se torna cada vez mais frequente? Que sentido tem evocar a universidade pública quando os serviços nos campi são privatizados? Que sentido tem evocar a universidade pública quando na esquina do corredor ou detrás da árvore surge um desses mercenários de óculos espelhados e bíceps grandiosos que costumam ornamentar os shopping centers? Hoje as universidades públicas só interessam aos professores que nelas leccionam, porque apesar de tudo detêm ainda um maior controlo sobre o seu tempo de trabalho e sobre o conteúdo deste trabalho do que deteriam nas instituições privadas. Mas como esses professores são os primeiros a acotovelarem- se uns aos outros quando se trata de obter qualquer financiamento privado, eles mesmos estão a cavar debaixo dos pés a cova em que dizem não querer cair.

Há anos atrás, quando começou no Brasil a grande vaga de privatizações, eu escrevia e dizia, apesar de isto escandalizar aquele tipo de esquerda que só se sente confortável a repetir lugares-comuns, que as empresas públicas estavam já privatizadas desde há muito tempo, porque tanto na forma como operavam como nas hierarquias internas, nos processos de trabalho e nas prioridades que definiam para as linhas de produção elas em nada se distinguiam das empresas privadas. O que então se passou foi que empresas circunscritas ao âmbito de um capitalismo nacional se transferiram para o âmbito transnacional. Não se tratou de privatização mas de transnacionalizaçã o, inevitável numa fase em que a concentração do capital atingira a globalização.

O mesmo ocorre com as universidades públicas formadoras de força de trabalho. As colaborações internacionais multiplicaram- se, as perspectivas de análise académica deixaram de se referir geograficamente a centros ou a periferias e tornaram-se globais, e os professores e respectivos orientandos são embalados e expedidos para congressos e estágios por aqui e por acolá. A universidade pública pode manter-se pública no nome, mas ela é cada vez mais privada na origem dos seus financiamentos, na determinação dos seus objectivos e, em traços gerais, no sistema do seu funcionamento.

Tragicamente, no Brasil são numerosos os professores e alunos que vêem com alegria esta evolução. Ao contrário do que sucede na Europa, no Brasil a universidade é ainda considerada como um veículo de promoção social, e a este respeito não me resta outro recurso senão o de recorrer à estafada imagem de subir uma escada que desce, porque os pais fazem os maiores sacrifícios para enviar para a universidade filhos que no final do curso acabarão por ser trabalhadores assalariados com um estatuto social equivalente, em termos relativos, àquele que os progenitores haviam tido. Num pequeno número de casos, porém, o estudante consegue progredir na hierarquia dos gestores, tanto em empresas privadas como na vida política, e inserir-se entre os capitalistas. Estas ascensões de uns poucos servem de isco para todos os demais, exactamente do mesmo modo que as pessoas jogam nas múltiplas lotarias.

O que poderia espantar é que apesar disto existam estudantes que protestem contra as variadas modalidades de privatização da universidade pública, que protestem contra a contratação de companhias de segurança privadas para actuar nos campi, contra a entrega de restaurantes universitários a empresas de fast-food ou contra a presença obsessiva dos bancos e das suas imagens nas instalações universitárias. Ainda recentemente, no dia 15 de Março, cerca de cinquenta estudantes do campus de Araraquara da Unesp participaram numa festa convocada para debater a reforma universitária. Na sequência do acto de protesto foram pintados bancos, bancos de sentar, por um lado enquanto metáfora de outros bancos, os de colocar dinheiro, por outro lado por ostentarem aquelas inscrições publicitárias que cada vez mais assinalam a penetração privada nos espaços considerados públicos, como bandeiras que os exércitos invasores hasteiam à medida que vão conquistando território. Menos amantes de alegorias, alguns estudantes decidiram atingir as instituições financeiras propriamente ditas e pintaram as caixas electrónicas. Os intuitos ficaram claros, mas a mim, pessoalmente, tudo somado parece-me pouco.

Apesar disso, esta pequena acção provocou grande celeuma, o que levanta um interessante problema de assimetrias. Empresas privadas têm o direito, legalmente confirmado, de colocar no interior dos campi as suas mensagens ideológicas e os seus símbolos, mas não é reconhecido aos estudantes o direito de colocar os deles. Trata-se de um espectáculo em que só é legítimo aplaudir e em que é proibido vaiar. «Beba isto» ou «Compre aquilo» são textos que as autoridades detentoras da sapiência académica consideram dignos de estar expostos a todos os olhos, mas « a luta muda a vida», por exemplo, uma das frases que os estudantes de Araraquara inscreveram nos assentos, se bem que me pareça mais instrutiva do que um painel publicitário, é pretexto de repressão.

A Unesp é o que é e, como sucede em instituições deste tipo, reprimir é mais fácil do que resolver as coisas de outra maneira. Assim, foi aberta uma sindicância e estão ameaçados de expulsão quatro estudantes, Juninho, do curso de Letras, e Júlia, Pedro e Thiago, do curso de Ciências Sociais.

Para me exprimir com sinceridade, receio que o facto de nos últimos tempos as autoridades da Unesp terem recorrido à repressão sempre que os alunos demonstram alguma imaginação nas formas de protesto seja revelador de uma certa insegurança quanto à qualidade do ensino. Os alunos imaginosos são um perigo, porque o que sucederá no dia funesto em que eles colocarem a imaginação em funcionamento dentro das salas de aula e começarem a levantar questões a que os professores não saibam dar resposta?

Não menos elucidativo é o facto de logo no dia seguinte ao do acto alguns estudantes terem manifestado junto à directoria a sua indignação com o protesto dos colegas. Há não muito tempo atrás, o aluno que denunciava outro tinha um nome. Mas os delatores sentiram-se prejudicados na sua ânsia ingénua de promoção social, sentiram-se agredidos ao verem pintalgadas ou inutilizadas aquelas caixas electrónicas de onde eles quase não têm dinheiro para retirar, sentiram-se insultados nas inscrições dirigidas contra aquelas empresas onde eles um dia, se tiverem sorte, irão ser trabalhadores precários. Mais instruído ainda fico ao observar que outros delatores, ou talvez os mesmos, não se satisfazendo com processos punitivos académicos, foram transmitir a sua repulsa a uma dessas celebridades fictícias da televisão, um desses personagens construídos pela revista Caras e pelas suas similares, um apresentador de programas ou comentador de plantão. Então não é lógico? Os defensores da privatização acelerada da universidade de massas encontraram voz autorizada num representante daquela que é por excelência, nos nossos dias, a cultura kitsch privada.

Estive a ver os comentários inseridos por leitores em sites da Mídia Independente a respeito do acto de protesto realizado na Unesp de Araraquara, e a acusação de vandalismo é a que mais frequentemente ocorre, até da parte de pessoas que se posicionam contra a privatização da universidade pública. Sabem qual é a origem do termo vandalismo? Todos julgam saber, claro, vem de Vândalos, um povo bárbaro que entrou no Império Romano e que partiu tudo o que encontrou à frente. Mas pensem três vezes, ou mesmo duas. Outros povos havia, daqueles que os historiadores classificaram como bárbaros, e no entanto ninguém fala da ostrogodização dos orelhões, da visigotização dos elevadores nem da burgundização dos ônibus.

Os povos ditos bárbaros, que se haviam estabelecido nos limiares do Império Romano e serviam como mercenários dos imperadores, foram convidados a adentrar as fronteiras durante as grandes lutas sociais que acabaram por ditar o fim do império. Os escravos revoltavam-se nos latifúndios, pegavam em armas, desencadeavam vastíssimas operações militares, a que as autoridades urbanas não tinham já força para responder. A aristocracia escravista convidou então os povos bárbaros a auxiliarem-na na luta contra os escravos, e foi assim que eles se fixaram no interior do império, como mercenários dos ricos. Para a velha aristocracia imperial o resultado foi duplamente trágico. Por um lado, porque não conseguiu debelar a revolta dos escravos, que conquistaram um efectivo grau de liberdade e se converteram em servos. Por outro lado, porque os mercenários bárbaros, vendo de perto a debilidade dos latifundiários, se substituíram a eles. Acabou assim o império e o escravismo, e começou o regime senhorial assente na exploração de servos.

Nem todos os povos ditos bárbaros, porém, apoiaram os latifundiários escravocratas. Na península ibérica, por exemplo, enquanto os Visigodos entraram ao serviço da aristocracia, os Suevos colocaram-se ao lado dos escravos amotinados. Mas tratava-se de um povo pouco numeroso, que acabou confinado no noroeste da península, no que são hoje a Galiza espanhola e o Minho português. Outro povo houve que se colocou ao serviço dos escravos revoltados, um povo muito mais numeroso do que os Suevos e cuja área de operações foi muitíssimo mais ampla – os Vândalos. É por isso que os Vândalos foram vândalos, porque a aristocracia latifundiária considerava como inteiramente justas e portanto como indignas de menção as atrocidades e as destruições que eram praticadas por sua ordem, mas considerava como horrendas aquelas que ela mesma sofria. Percorrendo o império de leste a oeste no que é hoje a Europa e passando depois para o norte da África, os Vândalos ajudaram os escravos a matar os latifundiários e os seus servidores, a saquear os palácios, a destruir os símbolos arquitectónicos e urbanísticos do poder imperial, a pilhar a fortuna dos ricos.

Vândalos, os quatro estudantes da Unesp de Araraquara? O Pedro, a Júlia, o Thiago e o Juninho, vândalos? Estou a escrever estas linhas e a rir-me, a imaginar o que os Vândalos, os verdadeiros, os de há muitos séculos atrás, fariam naquele campus, o que eles fariam das caixas electrónicas, das sindicâncias e dos sindicantes! E agora estou a rir-me mais ainda, a prever o que outros vândalos, não menos verdadeiros, farão daqui a algumas décadas, vindos dos subúrbios de uma sociedade toda ela privatizada, terceirizada, precarizada, aquela mesma sociedade para a qual as autoridades da Unesp dão a sua microscópica contribuição.

João Bernardo é escritor e professor. joaobernardo_ jb@msn.com

quinta-feira, 26 de julho de 2007

Pato aqui... pato acolá!

BOCA DO INFERNO - Informativo MALUNGOS - 8ª edição - LUTO pelas vítimas do apagão da educação na Bahia
Impressionante como algumas coisas acontecem, e outras não. A greve dos professores continua (firme e forte?). Os poucos professores seguram a barra com o apoio dos alunos (tão pouco quanto) e continuam à margem das preocupações do governo. Mas as nossas preocupações vão além.
A Assessoria de Comunicação da Uesb ainda se omite, nem parece que há greve, pois continua a divulgação dos projetos e das realizações da universidade como se tudo estivesse conforme o normal (professores e alunos pela universidade, condições para as aulas e para o ensino...). Quem esteve na Uesb por esses dias sabe que é possível ouvir o zumbido das moscas e que os cantos dos pássaros nunca foram tão ensurdecedores. Em 2005, quando a o governo do estado era outro, com pouco mais de dois meses de greve, a Ascom divulgou sete matérias (encontradas no próprio site da Uesb em 25/07/07) que anunciaram desde as negociações até o fim da greve.
Hoje, até a TV “pública” colabora. Durante o intervalo do Jornal, a TVE Uesb mostra o quanto a Uesb faz bem à cidade e o quanto ela está a serviço do conquistense. Doce ilusão, quem conhece sabe. Dia desses o reitor, no seu jornal, ops... no jornal da TVE Uesb, anunciou que a clínica de Odontologia será construída. Uma empresa seria selecionada para poder iniciar as obras. Não se espante! Os verbos ainda são no futuro...
A situação do curso de Odontologia é lamentável; corrigindo, é a mais lamentável. Nem cadeiras tinham para sentar. Em março desse ano, os alunos tiveram que vir à Conquista para chamar a atenção do excelentíssimo senhor reitor que, na época, também conjugou todos os verbos no futuro. Mas é isso aí, estamos progredindo!
Ah... Preciso falar de alguma coisa boa: Festival de Inverno Bahia. O maior festival de música do interior da Bahia, realizado pela Rede Malvadeza de Comunicação, está chegando e conta com o apoio de quem? Da Uesb, claro! Quanto foi desembolsado dessa vez? E pra quê? O stand na área do evento será fácil de achar, difícil é encontrar a justificativa para tal.
Desculpe por chateá-lo, mas ainda não deu pra terminar.
Estão fazendo o impossível para inaugurar o prédio da residência universitária, mas até agora, não houve nenhum planejamento com os estudantes, que continuam a desconhecer a política adotada, inclusive, para se construir algo tão ridículo como aquilo. O espaço é minúsculo e o acesso inapropriado. Ao que parece, desconhecem as necessidades estudantis e, pior ainda, não buscam conhecê-las.
Para os que não sabem a greve dos professores também é por melhorias das condições do ensino, não são somente gratificações e reajustes que estão em jogo. A pauta é extensa e difícil de ser cumprida, mas não é impossível. Quem sabe, quando a educação for uma prioridade para o presente e não para o futuro, tudo pode se tornar um paraíso como já querem nos fazer acreditar – ou você nunca viu a propaganda (?) da Uesb no intervalo do jornal da TVE?
Mas, por favor, não se iluda. É só você se lembrar da notícia recente, divulgada pela Ascom no site: a Uesb ganhou um novo curso! O curso de Farmácia será implantado (em breve - claro, mas já fazem a propaganda pra garantir), mesmo com os outros se arrastando para sobreviver. Outro motivo pra não se iludir: a reivindicação recente dos alunos de Engenharia Florestal, eles também clamam por socorro.
É tanta coisa que acontece e tantas outras que jamais aconteceram, que nos perguntamos se a greve sustentada até aqui não deveria ser uma greve estudantil? Agora, o que me incomoda é também assustador: eu, confesso, tenho medo que a situação piore. Pois, se as reivindicações forem atendidas, ao menos em parte, os professores voltam às aulas, mas e as condições dos alunos? Não serão as mesmas, serão piores: reposição de aulas, reformulação de calendário e correria para finalizar o semestre letivo e iniciar o outro, somados com todos os outros nossos problemas, que não foram listados sequer a metade. Mas tudo vai rumo ao futuro incerto da nossa educação, sendo empurrado. E quem paga o pato?

segunda-feira, 23 de julho de 2007

Um jogo de cartas marcadas... onde o vencedor é o governo... (parte II)

Aconteceu entre os dias 5 e 8 de julho, em Brasília, mais um Congresso da UNE (CONUNE). Desde 2003, quando a entidade passou de malas e bagagens para o lado do governo, não se poderia esperar nada para além de resoluções e moções de apoio às diretrizes políticas e educacionais do Planalto.

A abertura do evento foi realizada no Senado Federal. O local não poderia ser apropriado. Afinal de contas é lá onde o PCdoB defende com unhas e dentes o "progressista" Renan Calheiros, atual símbolo da corrupção do país e ex-ministro da Justiça de FHC.

Também estiveram presentes na cerimônia figuras ilustres e inimigas históricas dos movimentos sociais. A sessão, presidida por Pedro Simon (PMDB-RS), contou com a participação dos senadores: Mão Santa (PMDB-PI), conhecido pela sua brutalidade contra os sem-terra; e Marconi Perillo (PSDB-GO), patrocinador oficial do CONUNE de 2005. Como se não bastasse, a mesa coordenadora acolheu até mesmo o deputado federal Efraim Filho (PFL-PB).

Depois de aprovar em seus sucessivos congressos o apoio a todas as versões apresentadas pelo MEC da reforma Universitária, ao 50º CONUNE, ficou incumbida a tarefa de comemorar o Programa de Aceleração do Crescimento (PAC), que limita para os próximos 10 anos o crescimento da folha salarial dos servidores públicos federais, mantém o salário mínimo de fome, avança nas privatizações e inicia a reforma da Previdência. Essa resolução é um duro golpe contra a atual greve dos técnico-administrati vos, que já alcançou 46 Instituições Federais de Ensino Superior (IFES).

Sobre a vergonhosa ocupação das tropas do exército brasileiro no Haiti, o CONUNE não aprovou nenhuma linha sequer. Isso se deu por um motivo muito simples: o PCdoB faz parte do governo que oprime o povo haitiano a serviço do imperialismo norte-americano.

Um dos maiores ataques da história contra a universidade pública, denominado Universidade Nova, foi elaborado pelo reitor da UFBA, Naomar de Almeida Filho, e transformado em Decreto pelo presidente Lula em abril de 2007. O Programa de Apoio a Planos de Reestruturação e Expansão das Universidades Federais (REUNI), como também é conhecido, transforma o ensino superior público num grande escolão de curta duração, através da criação de ciclos básicos. Trata-se de um ataque tão sinistro, que o PCdoB não teve a coragem de defender abertamente tal programa. No entanto, se utilizou de uma manobra nem um pouco criativa, e ao invés de aprovar o apoio à Universidade Nova, o CONUNE deliberou pela Nova Universidade.

Se o CONUNE refletisse minimamente a realidade, a greve das estaduais paulistas, sobretudo a ocupação da USP, se faria presente em Brasília. Mas não foi isso o que aconteceu. A USP não enviou nenhum delegado ao CONUNE.

Diante de toda traição da direção majoritária da UNE, seria natural que a oposição de esquerda crescesse em seu interior. No entanto, a oposição diminuiu, enquanto a chapa formada pelo PCdoB, PT e MR-8 (PMDB) e PDT alcançou 72% dos votos. O PSOL, que tinha até então dois diretores na executiva da entidade, elegeu apenas um.

Os companheiros do PSOL admitem hoje que é impossível mudar os rumos da entidade. Portanto, torna-se cada vez mais necessária a construção de uma nova entidade independente, democrática e combativa. Essa tarefa deve ser assumida desde já pela Frente de Oposição de Esquerda da UNE (FOE), Conlute, Executivas de Curso e pelos milhares de estudantes que protagonizaram as lutas em defesa da universidade pública contra o governo Lula.
Thiago Hastenreiter, da Secretaria Nacional de Juventude do PSTU.

terça-feira, 17 de julho de 2007

STF manda Wagner pagar professores universitários

A presidente do Supremo Tribunal Federal (STF), ministra Ellen Gracie, manteve ontem decisão do Tribunal de Justiça da Bahia determinando que o governador Jaques Wagner libere o pagamento imediato dos salários dos professores universitários estaduais, em greve desde o dia 28 de maio. A ministra rejeitou ação de suspensão de segurança requerida pela Procuradoria Geral do Estado (PGE). O recurso foi a estratégia adotada pelo governo Jaques Wagner (PT) para tentar manter o bloqueio do salário de junho, e forçar os docentes a retornarem ao trabalho.Foi a segunda derrota jurídica do governo estadual. Em 29 de junho, os professores das três universidades em greve receberam o contracheque zerado. Segundo o coordenador de Formação Político-Sindical da Associação de Docentes da Universidade do Estado da Bahia (Aduneb), Aldrin Castellucci, o governo estadual havia se comprometido a não cortar os salários, mas na prática bloqueou a remuneração até de professores em licença médica ou para qualificação em pós-graduação.
Publicado no Correio da Bahia de 17/07/07

sexta-feira, 13 de julho de 2007

As greves dos professores no Estado da Bahia e as contra (d) ições do PT

Os professores da rede estadual (UESB, UNEB, UFES e Estado) estão em greve. Mesmo com o terrorismo aprontado pelo governo e reproduzido fielmente pelos seus funcionários (corte dos salários e ameaça de demissão dos contratados) , corajosamente disseram NÂO às pressões petistas governamentais – farei questão de não corroborar com o eufemismo “dos trabalhadores” do qual a sigla do Pt tenta mostrar-se herdeira: esse “t” pode significar tudo, menos o que tenta passar. As práticas governistas petistas têm conseguido sobrepujar o próprio conservadorismo jurídico da Constituição – instrumento da dominação burguesa por excelência - que concebe como legítimo o direito à greve. Usando contra os professores Estaduais as mesmas armas de pressão de que fizera uso o prefeito petista de Conquista contra os professores municipais, o governo baiano do ex-sindicalista Jaques Wagner - assim como o Presidente da República e suas marionetes - vai além do que eles próprios chamaram - num passado não muito longínquo - de direita autoritária, aproximando- se, sem pudor, das práticas totalitárias da ditadura militar, assumindo abertamente o papel de capachos do grande capital.
Apesar de tudo, as contradições contidas na prática/discurso desses senhores e senhoras não permitem dizer que o governo petista seja traidor. Se acompanharmos os processos eleitorais que protagonizaram, veremos que a cada eleição acenavam ao grande capital que seria a salvação da lavoura[1]. Não estavam equivocados, como nunca o tiveram. Chegando ao governo, poucos foram os seus antecessores que conseguiram transferir renda como o do Pt, só que na direção do capital financeiro. Veja-se a tão decantada Bolsa Família, menina dos olhos desses reformistas: em percentuais do PIB[2] direciona 0,3% para 44 milhões de pessoas, mas para especuladores do capital financeiro – meia dúzia de grupos e indivíduos -, perto de 7%, a título de pagamento dos serviços da dívida do ano 2006. Esta é uma transferência bastante representativa, só que na direção contrária da divulgada por seus discursos. Seguindo a mesma direção contraditória (?), o atual governador da Bahia criou 626 novos cargos de confiança, sendo que, um dia antes, os mandatários cederam um reajuste substancial nos valores pagos a essas funções. Para tanto fizeram uso de um instrumento antes tão ‘odiado’ pelo Pt: a medida provisória. Contradição? Só mesmo em relação a seu discurso. O governo petista é funcionário do grande capital desde que ascendeu ao aparelho de Estado, e age para transferir riqueza para seus patrões. Os demais fantoches que compõem o Estado – falo da estrutura burocrático-ideoló gica - têm projetos pessoais mais importantes que os problemas dos trabalhadores em greve.
Seriam traidores os ex-sindicalistas que se venderam (ou já eram vendidos?) a projetos contrários aos que sempre disseram combater e contra os quais se elegeram? Ao se destacar, entre estes, a atual diretora da DIREC-20, o prefeito de Vitória da Conquista, o hermeneuta deputado do Pt por Conquista, (hermeneuta no sentido daquele que nomeia a tudo o que quer, que interpreta as coisas através dos olhos de seus interesses) que, neste momento da greve dos professores contra-atacam seus antigos pares com instrumentos que a própria burguesia evita usar, são traidores sim - e agravam ainda mais o quadro - quando fazem alusão ao “passado sindical” - como o fez o próprio Presidente da República - na busca de avalizar o seu congênito reacionarismo patronal. Quem sabe, evocam o passado por se envergonharem do presente?! Este eles não conseguem escamotear. Os professores do Estado e da UESB, mais uma vez ousaram o desafio: disseram NÃO! A greve continua mesmo sob o terrorismo do Estado. Deixemos que os governantes e seus capachos usem seus instrumentos burgueses e se afundem no lamaçal das contradições de seus discursos/prá ticas até que os menos avisados compreendam que lobos são.
A Secretária da DIREC-20 merece especial atenção por seu papel contra os professores estaduais. Ex-pretensa sindicalista atuante – sua carreira sindical traz no currículo uma atuação não voltada para os interesses da categoria que dizia representar, mas, pelo que mostra, para interesses que passam muito mais próximo dos cargos estatais do que do sindicalismo. Sua passagem pela ADUSB foi marcada por uma atuação PELEGA. Hoje serve, vergonhosamente, de senhora de mandado inclusive impedindo eleições de diretores das escolas, soterrando a mísera possibilidade do engodo burguês da representatividade, mas que poderia ser um passo rumo à defesa de uma escola sem clientelismos. Mas o PT precisa aglutinar apoio político loteando cargos e altos salários para os seus, e como sua prática não mais agrega pela via das demandas políticas, necessitam do velho fisiologismo típico dos “neo” coronéis da política baiana. Cooptaram velhos sindicatos e seus sindicalistas, oportunistas de plantão que sempre beberam nas mordomias dos grupos que se encontram no poder ou à cata de privilégios cujas contribuições dos sindicalizados lhes permitem prazerosas viagens, festas, banquetes, passeios e candidaturas nas eleições municipais e estaduais, além de cargos no staff do Estado.
A ADUSB se rebelou e apostou na greve, mas continua em crise de identidade e sua rebeldia não aponta ruptura com seu questionável passado recente; a APLB, governista e oportunista como sempre, calou-se e deveria ser banida pela categoria de professores como são banidos cachorros sarnentos, já que abjurou (será?) a categoria e defende as hostes governistas contra os interesses dos trabalhadores. Quem faz a mediação do “monólogo” governista é o deputado hermeneuta, cuja passagem pela UESB não deixou saudades, tendo o seu grupo controlado os setores representativos dos professores, alunos e funcionários e manipulado greves quando era Reitor e líder do Fórum de Reitores, com o aval de uma ADUSB pelega.
Estes senhores (as) devem ter lido Operário em construção e A mãe, obras literárias de natureza viva, de Vinicius de Moraes e Maximo Gorki, respectivamente, já que foram sindicalistas de outros idos. E se leram devem entender a rebeldia dos professores em manter a greve e saber da paradoxal contradição entre os interesses dos trabalhadores e os seus. Se não entendem o recado, talvez se lembrem do que diziam no passado e que vale também para todo e qualquer governo totalitário do presente: uma GREVE GERAL derruba um General. Todo apoio e solidariedade aos professores em GREVE!!!
José Rubens Mascarenhas de Almeida
Professor da UESB
__________________________________________________________
[1] Ver a respeito o documentário Entreatos.
[2] Para se ter uma melhor noção do significado deste montante pode-se comparar com os gastos com os juros: no ano 2006, os gastos do governo com juros somaram R$ 160 bilhões, ou 6,89% do PIB (segundo Folha de S. Paulo, 30/03/07).

segunda-feira, 9 de julho de 2007

Dois de Julho de Luto e de Lutas

Dia da independência da Bahia é marcado por protestos contra os descasos do governo petista

Com a derrota do Carlismo e seus 16 anos de dominação e exploração do povo baiano, aqueles que ainda acreditavam na possibilidade de uma Bahia independente sob o novo governo de Jaques Wagner, viram-se golpeados em apenas 6 meses de mandato do representante petista no Estado. No último dia dois de julho, data que marca a expulsão dos colonizadores portugueses e que muitos comemoram através de um desfile civil e militar a independência da Bahia, partidos políticos, sindicatos, movimentos populares, movimentos dos professores, movimentos estudantis, como os estudantes de Medicina da UFBA, os DCE’s da UESB de Vitória da Conquista e UEFS, além do Coletivo CAUS da UNEB saíram nas ruas de Salvador em defesa da universidade pública, de qualidade e com compromisso social. Enquanto setores governistas tornavam patente a descaracterização do dois de julho com um dia de luto e luta ao tentarem maquiar, sob um forte aparato, as ações desastrosas do governo, inúmeras categorias profissionais também aproveitaram a data para protestar contra as péssimas condições de vida e trabalho a que estão submetidos. Para além da ala governista que assistiu Jaques Wagner ser vaiado em diversos trechos do percurso, que vai da Lapinha ao Terreiro de Jesus, o Cortejo de Dois de julho foi marcado por um massivo protesto contra o neocolonialismo do PT na Bahia, demonstrado pela capacidade do governo Wagner de relançar o “velho” sob a aparência do “novo” através do aprofundamento de antigas práticas carlistas, como a criminalização do movimento grevista dos professores do ensino público, a difamação e a precarização do trabalho docente.

Cartazes, bandeiras e faixas, além de palavras de ordem - governo Wagner de terrorismo, cortar salário é coisa do Carlismo - fizeram o contraponto denunciando as medidas implementadas no Estado e que são cópias fiéis ao modo petista de governar o país: desorganizar, reprimir. Um exemplo claro desse tipo de prática foi a instalação da Mesa de Negociação Permanente pelo governador Jaques Wagner que, repetindo o que aconteceu a título federal, dissolveu-a logo em seguida, adotando a tática de dividir para melhor impor sua política de reajuste zero aos servidores do funcionalismo público estadual. Além disso, foi denunciada pelos professores a forma autoritária e truculenta com que o governo vem tratando os trabalhadores da educação, exemplificada por ações como a do dia 9 de maio, quando a polícia foi acionada para impedir a manifestação dos docentes das universidades estaduais. Também foi destacada durante o protesto a utilização da justiça pelo governo, outro instrumento de manutenção da ordem burguesa, para impor ao sindicato dos professores do ensino básico uma multa de R$ 20 mil diários e o recente corte de salário dos professores universitários em greve.

O movimento estudantil combativo da Bahia, que não faz coro com o governismo e as burocracias estudantis, seguiu todo o percurso denunciando o descaso de Jaques Wagner com a educação e a forma descabida com que a categoria vem sendo tratada. Afinal, o governo insiste em fazer vistas grossas com relação ao desenvolvimento de uma política de assistência estudantil; por isso os estudantes foram rejeitados na composição da mesa que irá tratar de questões relacionadas ao ensino público superior, além de não terem sido convocados para nenhum encaminhamento de pauta junto à Secretaria de Educação ou à Coordenação de Desenvolvimento do Ensino Superior. Como a política educacional de Wagner é apenas uma mostra do projeto de destruição do ensino público superior engendrado pelo governo Lula, os estudantes de Medicina da UFBA também aderiram com força o protesto e de forma irreverente denunciaram o projeto “Universidade Nova”: mais uma cartada do FMI e de Lula de cunho empresarial e que tem como autor o porta voz oficial do presidente e “Rei – Thor” da UFBA, Naomar Monteiro de Almeida Filho.

O dia dois de julho evidenciou que se restavam dúvidas sobre a natureza do governo Wagner, elas parecem ter sido dissipadas em apenas 6 meses por suas ações de caráter pró-imperialista e anti-popular. Nesse momento de reação de diversas entidades nacionais que não apóiam o governo Lula e se posicionam contra as suas reformas, também se faz necessário e urgente nos organizarmos estadualmente para sermos conseqüentes em nossa luta e sairmos vitoriosos, tendo em vista o alinhamento do governo Wagner ao projeto nacional de desenvolvimento que vem sendo implementado por Lula: o aprofundamento da agenda neoliberal apresentado sob a aparência de um projeto democrático - popular.

Vitória da Conquista, 8 de Julho de 2007


DCE UESB -Vitória da Conquista/BA

Gestão: DCE EM MOVIMENTO

quinta-feira, 5 de julho de 2007

LUTO

É com muita tristesa que o Diretório Central dos Estudantes comunica o falecimento do estudante do curso de Comunicação, Diego Martins Nascimento, nessa quarta-feira, 04/07/07. Diego tinha 20 anos, era membro do CA de Comunicação 'Malungos', militante do DCE e trabalhava no Laboratório de Informática do Curso de Medicina, campus de Vitória da Conquista. O falecimento foi devido a um acidente de carro na estrada entre Salvador e Feira de Santana. O velório é na cidade de Nova Canaã (Igreja Batista Nova Betel, Av. Bernardino Rodrigues de Matos), e o sepultamento será nesta sexta-feira, 06/07/07, às 09 horas. A Universidade decretou luto oficial de três dias.


Malungo, Companheiro de luta, mais que isso, IRMÃO. Deixará saudades. Perdemos um pedaço de nós.

Amigo, que Deus te ilumine onde estiver... Certamente continuará sempre em nosso coração.



Diretório Central dos Estudantes
DCE Em MOVIMENTO 2007/2008
Campus de Conquista