sexta-feira, 13 de julho de 2007

As greves dos professores no Estado da Bahia e as contra (d) ições do PT

Os professores da rede estadual (UESB, UNEB, UFES e Estado) estão em greve. Mesmo com o terrorismo aprontado pelo governo e reproduzido fielmente pelos seus funcionários (corte dos salários e ameaça de demissão dos contratados) , corajosamente disseram NÂO às pressões petistas governamentais – farei questão de não corroborar com o eufemismo “dos trabalhadores” do qual a sigla do Pt tenta mostrar-se herdeira: esse “t” pode significar tudo, menos o que tenta passar. As práticas governistas petistas têm conseguido sobrepujar o próprio conservadorismo jurídico da Constituição – instrumento da dominação burguesa por excelência - que concebe como legítimo o direito à greve. Usando contra os professores Estaduais as mesmas armas de pressão de que fizera uso o prefeito petista de Conquista contra os professores municipais, o governo baiano do ex-sindicalista Jaques Wagner - assim como o Presidente da República e suas marionetes - vai além do que eles próprios chamaram - num passado não muito longínquo - de direita autoritária, aproximando- se, sem pudor, das práticas totalitárias da ditadura militar, assumindo abertamente o papel de capachos do grande capital.
Apesar de tudo, as contradições contidas na prática/discurso desses senhores e senhoras não permitem dizer que o governo petista seja traidor. Se acompanharmos os processos eleitorais que protagonizaram, veremos que a cada eleição acenavam ao grande capital que seria a salvação da lavoura[1]. Não estavam equivocados, como nunca o tiveram. Chegando ao governo, poucos foram os seus antecessores que conseguiram transferir renda como o do Pt, só que na direção do capital financeiro. Veja-se a tão decantada Bolsa Família, menina dos olhos desses reformistas: em percentuais do PIB[2] direciona 0,3% para 44 milhões de pessoas, mas para especuladores do capital financeiro – meia dúzia de grupos e indivíduos -, perto de 7%, a título de pagamento dos serviços da dívida do ano 2006. Esta é uma transferência bastante representativa, só que na direção contrária da divulgada por seus discursos. Seguindo a mesma direção contraditória (?), o atual governador da Bahia criou 626 novos cargos de confiança, sendo que, um dia antes, os mandatários cederam um reajuste substancial nos valores pagos a essas funções. Para tanto fizeram uso de um instrumento antes tão ‘odiado’ pelo Pt: a medida provisória. Contradição? Só mesmo em relação a seu discurso. O governo petista é funcionário do grande capital desde que ascendeu ao aparelho de Estado, e age para transferir riqueza para seus patrões. Os demais fantoches que compõem o Estado – falo da estrutura burocrático-ideoló gica - têm projetos pessoais mais importantes que os problemas dos trabalhadores em greve.
Seriam traidores os ex-sindicalistas que se venderam (ou já eram vendidos?) a projetos contrários aos que sempre disseram combater e contra os quais se elegeram? Ao se destacar, entre estes, a atual diretora da DIREC-20, o prefeito de Vitória da Conquista, o hermeneuta deputado do Pt por Conquista, (hermeneuta no sentido daquele que nomeia a tudo o que quer, que interpreta as coisas através dos olhos de seus interesses) que, neste momento da greve dos professores contra-atacam seus antigos pares com instrumentos que a própria burguesia evita usar, são traidores sim - e agravam ainda mais o quadro - quando fazem alusão ao “passado sindical” - como o fez o próprio Presidente da República - na busca de avalizar o seu congênito reacionarismo patronal. Quem sabe, evocam o passado por se envergonharem do presente?! Este eles não conseguem escamotear. Os professores do Estado e da UESB, mais uma vez ousaram o desafio: disseram NÃO! A greve continua mesmo sob o terrorismo do Estado. Deixemos que os governantes e seus capachos usem seus instrumentos burgueses e se afundem no lamaçal das contradições de seus discursos/prá ticas até que os menos avisados compreendam que lobos são.
A Secretária da DIREC-20 merece especial atenção por seu papel contra os professores estaduais. Ex-pretensa sindicalista atuante – sua carreira sindical traz no currículo uma atuação não voltada para os interesses da categoria que dizia representar, mas, pelo que mostra, para interesses que passam muito mais próximo dos cargos estatais do que do sindicalismo. Sua passagem pela ADUSB foi marcada por uma atuação PELEGA. Hoje serve, vergonhosamente, de senhora de mandado inclusive impedindo eleições de diretores das escolas, soterrando a mísera possibilidade do engodo burguês da representatividade, mas que poderia ser um passo rumo à defesa de uma escola sem clientelismos. Mas o PT precisa aglutinar apoio político loteando cargos e altos salários para os seus, e como sua prática não mais agrega pela via das demandas políticas, necessitam do velho fisiologismo típico dos “neo” coronéis da política baiana. Cooptaram velhos sindicatos e seus sindicalistas, oportunistas de plantão que sempre beberam nas mordomias dos grupos que se encontram no poder ou à cata de privilégios cujas contribuições dos sindicalizados lhes permitem prazerosas viagens, festas, banquetes, passeios e candidaturas nas eleições municipais e estaduais, além de cargos no staff do Estado.
A ADUSB se rebelou e apostou na greve, mas continua em crise de identidade e sua rebeldia não aponta ruptura com seu questionável passado recente; a APLB, governista e oportunista como sempre, calou-se e deveria ser banida pela categoria de professores como são banidos cachorros sarnentos, já que abjurou (será?) a categoria e defende as hostes governistas contra os interesses dos trabalhadores. Quem faz a mediação do “monólogo” governista é o deputado hermeneuta, cuja passagem pela UESB não deixou saudades, tendo o seu grupo controlado os setores representativos dos professores, alunos e funcionários e manipulado greves quando era Reitor e líder do Fórum de Reitores, com o aval de uma ADUSB pelega.
Estes senhores (as) devem ter lido Operário em construção e A mãe, obras literárias de natureza viva, de Vinicius de Moraes e Maximo Gorki, respectivamente, já que foram sindicalistas de outros idos. E se leram devem entender a rebeldia dos professores em manter a greve e saber da paradoxal contradição entre os interesses dos trabalhadores e os seus. Se não entendem o recado, talvez se lembrem do que diziam no passado e que vale também para todo e qualquer governo totalitário do presente: uma GREVE GERAL derruba um General. Todo apoio e solidariedade aos professores em GREVE!!!
José Rubens Mascarenhas de Almeida
Professor da UESB
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[1] Ver a respeito o documentário Entreatos.
[2] Para se ter uma melhor noção do significado deste montante pode-se comparar com os gastos com os juros: no ano 2006, os gastos do governo com juros somaram R$ 160 bilhões, ou 6,89% do PIB (segundo Folha de S. Paulo, 30/03/07).

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